quarta-feira, 31 de julho de 2013

DIA 12 - parte II


O frio que tomava minhas entranhas já tinha se espalhado por todo meu corpo. A sensação de vê-la se aproximando era tão intensa que alguns momentos me faltou ar. Senti o colchão ceder ao meu lado, me arrepiei todo. Ela sentou, olhou para mim:
- Tudo bem? Se for te incomodar eu posso dormir lá na cadeira, é grande mesmo. – perguntou ela, já sabendo a minha resposta.
- Lógico que não, tá doida? Tranquilo, deita aí. – respondi me concentrando ao extremo para não deixar transparecer meu nervosismo.
- Então tá! – Completou já se deitando. Senti o corpo dela se apoiar todo sobre o colchão, deformando-o levemente. A sensação daquele encontro na porta do banheiro voltou com uma força ainda mais brutal. O cheiro da sua pele incendiava cada centímetro do meu corpo, atiçando minha imaginação e embriagando meus sentidos. Um fervor antagônico ao friozinho ansioso que eu sentia antes dela se deitar ia tomando conta de mim. Olhei para ela disfarçadamente buscando captar mais um motivo para alimentar meu desejo, e assustei ao ver que ela me encarava. Tinha nos lábios um sorriso travesso, o que a deixava ainda mais linda.
- Tá nervosão, né? – Falou gargalhando. – Dá pra ver! Você tá com uma expressão muito tensa.
- E...eu? Não, que...isso. Impressão sua! – Minha negativa acompanhada dessa irritante gagueira involuntária fez Clarice aumentar ainda mais o volume das risadas.
- Aí! Consegue nem falar! Calma, não vou te morder! – Disse entre as gargalhadas
- Hãm... pior. Tô nervoso mesmo...é que nunca deitei com uma menina. – Respondi admitindo a situação e constrangido pelo fato íntimo que essa afirmação revelava. Ela percebeu o meu embaraço e subitamente parou de rir. Achou minha mão por debaixo dos cobertores, agarrou-a e disse:
- Olha, tá tudo bem. Eu não queria te constranger com isso, desculpa. É que você ficou tão fofo nervoso! Me desculpa! – Confesso que essa frase mexeu muito comigo. Reviveu minhas esperanças e me fez soltar um sorriso. Sem o que responder, apenas olhei para ela, num sinal de que tinha aceitado as desculpas. Ela apertou minha mão antes de soltá-la.
- Além disso, você tá sendo um anjo comigo! Quem em sã consciência daria moral para uma louca como eu? Olha o tamanho do trabalho que estou te dando, ainda dormindo aqui de graça?
- Não é trabalho, Clarice, já te falei. Adoro sua companhia. Na verdade você está me fazendo um favor de ficar comigo – Quando acabei de falar percebi que ela me olhava com uma ternura até agora inédita. Se não era pretensão minha, confesso que também havia um pingo de admiração ali.
- Porque todos os homens não são assim, hein? Sorte de quem ficar contigo. – Cada segundo que se passava eu ficava mais envergonhado. Não era acostumado a receber elogios, muito menos de meninas. Além disso, ela falava com uma doçura que me fazia dar vida às minhas ilusões.
- Boa noite! Qualquer coisa me avisa tá? Pode acordar – Falou ela encerrando a conversa. Antes de deitar novamente, ela se aproximou e me deu um beijo no rosto. Ao se afastar, deu mais um daqueles sorrisos encantadores. Ajeitou o travesseiro e se enfiou embaixo das cobertas. Eu ainda fiquei um tempinho sentado, me deliciando com o toque suave de sua boca. Olhei para o lado ela já estava deitada. Me virei também e desliguei a luz.

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