quinta-feira, 11 de julho de 2013

DIA 06 - parte II

            ...Permaneci algum tempo imóvel, assustado, tentando acreditar na chance que aparecia para mim . Estava cansado desse medo que sempre me impedia de fazer as coisas. queria me livrar de vez daquele maldito frio na barriga. Decidi não ensaiar nada, apenas chegaria lá, simples.  Coloquei o livro dentro da mochila, me levantei e fui. No corredor evitava os pensamentos, queria apenas acabar aquela caminhada até o banco da frente, que aliás, parecia não chegar nunca.
Ao fim do trajeto me coloquei ao lado da poltrona, olhei para ela rapidamente e sentei. Não falei nada, abri a mochila e peguei de novo o livro. Não ia ler, como já sabem o balançar do ônibus me impossibilitava isso, a intenção era parecer indiferente com a mudança e evitar que ela falasse comigo. Não adiantou muito, quando ela percebeu que a pessoa sentada ao lado não lhe empurrava contra a janela, olhou surpresa para o lado e disse:
-Ué, cadê a senhora que estava sentada aqui?
- Não sei- respondi. – Ela tinha sentado no meu lugar. Tudo bem eu sentar aqui?
-Ah, claro ué. – Virou para o lado e fechou os olhos. Em poucos instantes a velha chegou. Olhou para mim com uma cara indignada e reclamou:
-Ô moleque, o que é que você está fazendo aí? Sai logo que eu quero sentar.
-Desculpa, senhora, mas essa poltrona é minha. A senhora se enganou quando entrou no ônibus.
-Mas você já viajou até aqui lá atrás, para quê vir para cá agora?
- Porque comprei a passagem para sentar aqui, quero viajar aqui.
-Esses meninos de hoje são todos assim, desrespeitosos. Um dia vai ser velho e vai ver como é bom ser maltratado. Moleque sem educação! – Saiu ela resmungando. Para minha surpresa a menina ao meu lado estava atenta à discussão. Quando a velha saiu ela disse:
-Ela tem razão. Porque você quis vir pra cá agora?  
-Estava frio lá atrás. – menti.
-Ah! - tornou a fechar os olhos, e se virou. Não sei se era apenas o que eu queria entender, mas ela pareceu um pouco frustrada com a minha resposta, como se esperasse ouvir outra coisa. Meti os olhos no livro, sem deixar de observá-la.

Já se passava algum tempo que eu estava ali e ela permanecia imóvel, como esteve durante toda a viagem. Aparentemente a minha presença ali não importava mais ou menos para ela do que a gorda, continuava indiferente. Olhei para ela mais atentamente, sem medo que ela me flagrasse e então percebi que ela  dormia. Abri um sorriso, e voltei aos meus pensamentos. Algum tempo depois sentia que ela se aproximava de mim, bem lentamente. Senti sua cabeça encostar no meu ombro, os cabelos loiros dela tocaram meu pescoço, fazendo cócegas. Meu corpo estremeceu, fiquei sem ar.

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