sábado, 31 de agosto de 2013

DIA 19

Faltam 9 dias. Depois daquele beijo as coisas mudaram entre nós. Deixamos de nos tratar como apenas amigos e algumas outras intimidades surgiram no nosso relacionamento. Porém, não éramos e também não agíamos como namorados, um meio termo entre amizade e namoro resumia bem nossa relação. As coisas iam bem, a tensão latente de antes e depois do beijo ia desaparecendo gradativamente, deixando tudo ainda mais prazeroso.
            Passávamos os dias fora, como desde o início da viagem, e a noite voltávamos para o hotel, onde podíamos curtir mais um ao outro. Por conta da nossa nova condição, ela tomava bem menos cuidado com algumas situações. Antes, as trocas de roupa eram tensas, feitas no banheiro com bastante cuidado. Agora não, ela saía do banho apenas de toalha e passava por mim sem grandes constrangimentos. Dormir ao lado um do outro também deixou de ser uma tarefa complicada e tinha se tornado um momento de grande expectativa e, pelo menos da minha parte, de excitação.
            Em uma dessas noites tínhamos chegado da rua, e cansado, deitei. Poucos segundos depois ela me acompanhou e se acomodou ao meu lado. Nos beijamos por alguns instantes, no final do beijo, senti sua boca no cantinho da minha orelha. Com a respiração ofegante, a voz bem baixinha ela soltou:
- Tô com vontade. – Meu coração voltou a acelerar, como nas primeiras vezes em que conversei com ela. Fiquei meio atordoado, sem saber o que fazer.
- Do que? – Perguntei, sem perceber o quão ridículo soava aquela indagação.
- Ué, você sabe...Você, nunca, né?
- Não...
- Fica tranquilo, não precisa ter vergonha. – Ela se levantou, desligou a luz e voltou para a cama. Senti seu calor se aproximando de mim, Ela tirou a blusa e a pouca luz externa iluminava ao mínimo o quarto e deixava à mostra a silhueta dos belos seios que ela tinha, ainda parcialmente escondidos pelo sutiã. Tudo ficava ainda mais excitante.
Senti seus lábios no meu pescoço, subindo até o inicio da minha orelha. Passava a mão nos meus ombros, as vezes descendo até o peitoral. Ela se aproximou, senti seus peitos, me arrepiei dos pés à cabeça. Como numa valsa, Clarice ia conduzindo aquela dança. Tirou minha blusa, se envolveu entre meus braços. Ainda trêmulo, acariciei suas costas e senti que ela também se arrepiava com meus toques. Desabotoei seu sutiã e levemente, senti ele escorregar entre nossos corpos. Meus pensamentos viajam à lugares jamais imaginados, meu corpo vivia um turbilhão de sensações que me faziam entrar em delírio. Paulatinamente ela ia se despindo completamente, elevando meu estado de excitação à um ponto que eu sempre pensava que não era possível aumentar. Percebendo que eu não seria capaz de fazer muitas coisas, ela ia tomando as ações por mim. Me entreguei por completo a ela, e nos amamos naquela noite.
Durante toda a madrugada permanecemos num clima diferente. Nos intervalos, conversávamos sobre tudo que havia acontecido entre nós, desenrolando como uma fita a sucessão dos fatos que nos levaram até aquele momento. O ônibus, a velha gorda, o namorado, o encontro no hotel. A soma disso tudo tinha resultado no momento mais especial da minha vida. Não por perder a virgindade, mas por ter enfim lutado e conseguido alguma em coisa em minha vida. Queria que aquele momento durasse por toda a eternidade.

            

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DIA 18

            Faltam 10 dias. Fui e voltei da lanchonete pensando no acontecimento daquela tarde, visualizava e interpretava as reações e caras de Clarice ao saber dos meus reais sentimentos. Elaborava e tramava hipóteses, tentando lutar contra a negatividade tão característica minha, mas que por aqueles dias andava tão ausente que parecia ser sumido de vez. Os olhos dela se arregalando vagarosamente ao ouvir minha declaração era a cena que mais mexia comigo, me preocupava.
Tive a sensação de que ela não esperava que isso fosse acontecer, pelo menos naquele momento. Minha ingenuidade e timidez a faziam pensar que eu não seria capaz de cultivar algum sentimento do tipo, e mesmo se cultivasse, não teria coragem de expor. Na verdade ela tinha razão, eu não teria coragem de tudo isso mesmo, se não fosse minha vontade de mudar tudo. Esse era meu novo norte, meu rumo.
Cheguei ao hotel, parei diante da porta. Antes de abri-la tentei adivinhar o que aconteceria logo depois. Não tinha mais o que ficar pensando, estava feito e agora precisava ser encarado. De leve fui abrindo a porta, o breu característico de fim de tarde encortinava o quarto e escondia tudo que havia lá dentro. À medida que abria a porta, a pouca luz que vinha de fora iluminava o aposento, formando gradualmente a silhueta dos móveis. Entrei e vi Clarice sentava na cama, com as pernas cruzadas. Sua cabeça estava baixa, assim como os ombros. Quando percebeu minha presença, ergueu de leve os olhos:
- Vem cá, senta aqui. -  disse bem lentamente, quase soletrando cada palavra. Deixei o lanche sobre a mesinha de canto e sentei ao seu lado na cama.
- Andei pensando no que você falou. Tava no banho, não conseguia deixar de lado.
- Hum...olha, não tem problema se....
- Espera, deixa eu falar. – Falou com um tom meio ansioso, impaciente talvez.
- Tá. – respondi meio desconcertado.
- Você foi super fofo comigo desde o começo. Lá no ônibus mesmo, sempre me deu atenção e se preocupou comigo. Qualquer um tinha pulado fora nas situações que eu te meti. Você não, ficou ao meu lado quando eu mais precisei. Cuidou de mim sem nem me conhecer direito. – A essa altura eu já não sabia mais o que pensar. Paralisado atrás da porta do quarto imaginei que ela ignoraria a situação, tentasse contornar as coisas até que o assunto chegasse ao fim naturalmente.
Mas não. Não era isso que estava acontecendo. As palavras dela pareciam levar a situação a um rumo totalmente inverso e me fazia tremer compulsivamente. Ela se aproximou, o calor do seu corpo entrava em rota de colisão com o meu, até que suavemente os lábios dela repousaram sobre os meus, fervilhando o sangue que corria em minhas veias. O toque de nossas bocas me fez arrepiar. O atrito ia aumentando, os movimentos se aceleravam e em poucos segundos nos beijávamos com intensidade. Os braços dela envolviam meus pescoço, com a ponta dos dedos acariciava minha nuca onde iniciava o couro cabeludo, algumas vezes segurando meu cabelo.
Fomos nos separando aos pouquinhos, curtindo o fim daquele beijo. Antes de descolar nossas bocas, ela me deum último beijo, de leve, um selinho. Olhou para mim, deu um sorriso bem:
- Você tá me fazendo muito bem – disse ela, repousando sua cabeça sobre meus ombros.

- Você também – respondi, completando o abraço que ela iniciava. 

sábado, 17 de agosto de 2013

DIA 17

       Faltam 11 dias. Na manhã seguinte tudo ocorreu normalmente. Saímos, conhecemos alguns lugares, batemos perna por aí. Percebi que nossa sintonia estava mais afinada do que nunca, deixando cada segundo da viajem ainda mais maravilhoso. Os receios e as vergonhas iam desaparecendo, e nesse ponto, acredito que estavam reduzidos ao mínimo.
            Durante a tarde voltamos à praia, o dia estava bonito e um banho de mar seria perfeito. Por algum tempo permaneci alheio à Clarice e tudo que se passava entre nós, para curtir o visual e me deixar levar junto com o movimento das ondas. Sentei na beirada do mar, onde, se a onda viesse com força, a água alcançaria apenas os meus pés. O céu estava azul, bem azul, se misturando com o azul marinho e tornando quase imperceptível a linha horizontal que separavam o mar do céu. As nuvens e alguns pássaros se misturavam no infinito, parecendo dançar naquele esplendoroso palco.
            Fechei os olhos lentamente, puxei o ar até encher o peito, segurei alguns segundos e soltei. Abri os olhos e a cena ainda se passava exatamente com eu a tinha deixado.  Minha vida inteira eu tinha me privado dessa e outras belezas que o mundo proporciona. Estava tudo errado, e enfim eu tinha enxergado isso. Mais que enxergar, estava disposto a mudar e reverter essa situação, imediatamente. Olhei para trás, Clarice estava deitada de costas, tomando sol. Me levantei, desci até encontrar o mar, molhei as mãos, passei no rosto e dei uma última olhada par ao horizonte.
            Fui até onde Clarice estava, e antes de chamá-la, respirei fundo:
- Clarice – disse com tom de voz firme.
- Oi, já quer ir embora? Tô levantan...
- Não, não é isso. É que fui te falar ontem, mas não consegui. Tô gostando de você. – Ela franziu a testa, apertou os olhos que estava firmes em minha direção. Fiquei preocupado, ela se pareceu mais surpresa do que eu esperava, mesmo assim não me arrependia.
- Ahn...gostando, tipo gostar? – Respondeu totalmente desconcertada.
- É, tipo. Sei lá, você apareceu tão repentinamente e mudou tudo na minha vida. Nunca senti isso, gosto mesmo. – Sua expressão de susto ia aumentando na medida que minhas palavras chegavam aos seus ouvidos.
- Ah, ahn. Também me surpreendi com você, mas tipo. Não sei, acabei de viver tudo aquilo, ainda tô meio confusa.
- Não tudo bem. Não estou te cobrando nada, só queria q você soubesse. Não quero mais deixar de tentar, sempre deixei de lado. Agora não.
- Ah, de boa. Tá tudo bem. – Ela se levantou, me deu um beijo no rosto.
            Pegamos nossas coisas e voltamos ao hotel. Em silêncio, nenhuma palavra saía de nenhum de nós. Fiquei com medo do que poderia acontecer, podia ter estragado tudo e destruído toda nossa relação e jogado no ralo toda intimidade que tínhamos criado em tão pouco tempo. Chegamos ao quarto, ela foi pro banheiro:
- Vou tomar um banho, pra tirar o óleo, tá?
- Tá, enquanto isso vou comprar algo pra comer, quer alguma coisa?
- Pode trazer o mesmo que comprar pra você.

- Beleza. – Ela entrou pro banheiro e fechou a porta. Eu saí, e comigo o medo de ter colocado tudo a perder.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

DIA 16

Faltam 12 dias. Naquela tarde, nada de interessante ou digno de ser relatado aconteceu. Almoçamos perto da praia, voltamos ao hotel, tomamos um banho e dormimos um pouco. Alguns assuntos superficiais surgiram, ocupando boa parte do nosso tempo e relevando que nossa relação estava cada vez mais íntima e natural. Eu nunca havia me entregado tão rápido assim a uma pessoa, com ela era diferente.
Não precisava de esforço, de ensaios, de nada. As coisas fluíam, iam acontecendo, simples assim. Como minhas experiências sociais eram quase nulas, me perguntava se toda essa compatibilidade que nós tínhamos era normal com todas pessoas, ou se era um fato raro, que podia indicar algum tipo de ligação especial entre eu e Clarice. O meu novo eu preferia acreditar na segunda opção, ainda que tivesse um pé atrás. O antigo tinha certeza que a primeira era correta, e nem se dava ao trabalho de analisar a outra opção. Mas agora o momento era do novo, ele decidia o que fazer ou não. A decisão de ser diferente, mudar minhas atitudes e minha vida estava mais firme do que nunca dentro de mim. O único medo que eu tinha agora era o de não fazer.
Naquela noite eu estava decidido a falar com ela. Expor meus sentimentos e ver no que dava. Clarice não podia estar alheia a tudo, eu não era bom em mentir e esconder as coisas, ela mesma tinha me dito isso. Observadora e atenta como era, já teria flagrado mil vezes meus olhares, percebido todo meu nervosismo ao falar com ela. Não a pegaria de surpresa, o que poderia ser fatal. Pela primeira vez eu estava vencendo a minha infinda batalha interna. Estava tão perto que desistir tinha deixado de ser uma opção. Iria falar com ela a qualquer custo.
Nos preparávamos para dormir quando eu resolvi falar com ela;
- Clarice, quero falar com você. – Assustei-a, com um tom de vez mais elevado do que o normal
- Ué, tá. – ela se aproximou da cama, onde eu estava – O que foi?
- É que...- minhas mãos começaram a suar. Meu peito parecia uma quadra de escola de samba, o coração parecia alçar vôo. – eu...tava pensando e...
- O que foi? Tá tudo bem? Você parece meio nervoso, está passando mal?
- Não, tá beleza, é só que... – Eu não ia conseguir. Estava deixando-a preocupada, não queria criar um clima tenso antes de revelar tudo. A viagem estava apenas no começo, ainda teria tempo – Queria te agradecer por ter ficado comigo, aqui. Minha viagem não seria tão legal se eu estivesse sozinho.
-Ah, cara! Era isso? Eu que tenho que agradecer por tudo que você tem sido pra mim! Teve paciência comigo, nem me conhecia e me deu toda a atenção do mundo. Obrigado você! – Disse, aliviada da tensão que se criara durante o diálogo.
            Ela me abraçou. Um movimento forte, intenso. Senti ela me apertando, cravando as unhas no meu ombro, como se não quisesse perder o que recentemente tinha ganhado. Precisava proteger o que era seu, a qualquer custo. Esse gesto me fez ter ainda mais certeza de que eu precisava falar com ela. Poderia estar iludido, exagerando nas interpretações, mas poderia estar certo. Era uma dúvida que só tinha uma única maneira de ser resolvida, e seria.

            Mesmo não sendo naquela noite, fiquei feliz com o acontecido. Aquela abraço significou muito para mim, me deixou mais seguro. Quando deitamos ela me deu um beijo no rosto, soltou um sorriso no canto da boca acompanhado por uma piscadela. Depois de passar a primeira noite quase em claro ao lado dela, senti que essa noite seria diferente. Estava mais tranquilo, mais relaxado. Me entreguei ao sono, e dormi profundamente.

domingo, 11 de agosto de 2013

DIA 15

Antes de começar os relatos de hoje, preciso explicar um detalhe. Alguns fatos e dias de pequena importância para a história serão apenas citados ou nem isso, para evitar que me prolongue demais. Além disso, a partir de hoje, farei uma contagem regressiva para o fim dos meus escritos. Faltam 13 dias.
            Ir à praia era uma coisa extremamente incomum na minha vida, por isso tinha sido o destino escolhido. Queria afastar a monotonia, espantar a mesmice e buscar coisa nova, e como só tinha visitado o litoral apenas quando criança, decidi que poderia ser a praia a maior aventura. De certa maneira tinha me enganado, já que uma grande paixão tinha tomado esse posto para si. De qualquer maneira, o contato com a areia, com o mar me fez muito bem.
Chegar àquele cenário paradisíaco me fez esquecer por alguns dias a medíocre vida que eu levava. A tamanha beleza daquele lugar me hipnotizou, me transportou para um mundo que eu não conhecia, me fez enxergar novos horizontes. Os grãos de areia em contato direto com meus pés, a maresia batendo no meu rosto, sacudindo num movimento frenético meus cabelos, a mão esquerda de Clarice repousada no meu ombro. Um momento de rara paz e felicidade na minha existência, que jamais foi esquecido por mim.
Passamos algumas horas na praia, a maioria do tempo debaixo do guarda sol, devido a minha baixíssima resistência ao sol mesmo besuntado de filtro solar. O que não impediu em nada que nos divertíssemos muito conversando e observando as demais pessoas que estavam ali. Algumas até eram dignas de comentários, as vezes de caráter meio maldoso, porém, engraçados. Mas o clímax do passeio foi uma das nossas idas ao mar, quando aconteceu um fato digno daquelas novelas bem melodramáticas da tv. Ela me desafiou a mergulhar contra uma onda, atravessá-la. Como era apenas minha segunda vez no mar, estava ciente de que teria sérias dificuldades pra isso, porém, não queria mostrar mais uma fraqueza à ela e decidido a encarar, aguardei a onda. Quando ela surgiu próximo de nós, me preparei e vi que ao meu lado ela também se posicionava. A onde chegou mais forte que imaginávamos e ao invés de atravessarmos, fomos engolidos por ela. Naquela turbilhão de água senti meu corpo chocar o dela com uma violência até considerável. Durante alguns segundos tivemos totalmente entregues à vontade das águas, até que o fim da onda nos arremessou na areia, um sobre o outro, colados.
Quando percebi a posição que nos encontrávamos, senti meu corpo queimar. Não por excitação, e sim por vergonha. Estava tenso, apenas aguardando alguma reação de repugnância ou indignação da parte dela. Mesmo assim não me movi, um dedo sequer. Me mantive ali, por debaixo daquele corpo quente e molhado que me prensava suavemente contra a areia. Para minha total surpresa, ela deu uma gargalhada e disse:
- Nossa, cara! Você é maluco? Pulou em cima de mim. Sabe nadar no mar não?
- A culpa não foi minha, ué! A onda que veio grande demais, viu não? Duvido que você conseguiria furar essa
- Nunca duvide de mim – falou ela, já diminuindo o volume das gargalhadas – E é logico que conseguiria!
- Sei não. – completei encerrando o assunto.

            Ela se levantou, deixando os seios bem salientados, numa visão estonteante. Não os encarei por muito tempo com medo que ela percebesse. Peguei em sua mão, me levantei também e fomos nos sentar de novo sob o guarda sol. Não consegui tirar o acontecido da minha cabeça. Ficou lá, martelando em minha mente, atordoando meus sentidos. Pouco tempo depois fomos embora. Eu ainda carregando a cena comigo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

DIA 14

Acordei no outro dia por volta das 11 horas. Nunca fui de levantar tarde, pelo contrário, normalmente às 8 eu já estava de pé. Mas toda aquela carga emocional tinha me levado à exaustão. Além disso, eu tinha dormido muito tarde, justificando esse fato raríssimo na minha vida.
Olhei para o lado na expectativa de ver Clarice, mas não a encontrei. Me levantei, fui até a porta do banheiro, bati, ninguém respondeu. Abri a porta lentamente, estava vazio. Onde será que ela estaria? Resolvi esperar, fui tomar um banho. Pouco tempo depois escutei barulhos no quarto, denunciando que ela havia chegado. Mesmo sabendo que ela voltaria, senti aliviado ao ter certeza que estava lá. Lavei meu rosto, desliguei o chuveiro, peguei a toalha. Me sequei, quando estava enrolando-a em minha cintura, a porta do banheiro se abriu num rompante:
- Ah, desculpa! Você estava aí? Não sabia, desculpa! – disse assustada, enquanto fechava a porta quase na mesma velocidade em que a abriu.
- Nossa, cara, quase me matou de susto! – respondi envergonhado – Tô saindo já, terminei. Onde você tava? Acordei tarde, não te achei.
- Tava no café. Até te esperei, mas a cantina fechava as 10 e vi que você não ia levantar mesmo, fui lá.
- Nossa! É mesmo. Podia ter me chamado, tô com fome. Agora vai ater que ir achar uma padaria pra me levar.
- Vou não. – respondeu ela, entrando no banheiro e dessa vez, trancando a porta.
Na mesinha do quarto estava preparado o meu café-da-manhã. Pães-de-queijo, um pedaço de bolo de chocolate, uma maça e um copo de leite. Fiquei surpreso com aquela atitude, passando a admirá-la ainda mais. Me vesti rápido, antes que ela voltasse para o quarto e mais uma vez me pegasse de modo constrangedor. Quando me sentei na mesa, ela saiu do banheiro:
- Eu não sabia o que você gostava, trouxe isso. Acertei? – indagou com uma doçura que acentuava ainda mais meus sentimentos por ela.
- Uhum, na mosca. – respondi, provocando um sorriso em seu rosto. – Obrigado!
- Ainda bem. Tá uma delícia, principalmente o pão-de-queijo. – Ela foi até sua mochila, pegou algumas roupas e voltou para o banheiro. Vê-la de toalha já era algo mais natural, tendo em vista que nossa relação avançava a passos largos. Enquanto eu comia ela voltou, já vestida. Sentou ao meu lado.
- Vamos à praia? O sol tá ótimo hoje!
- Ué, vamos. Você que vai ser minha guia turística.
- Beleza. Come aí então, para gente ir.
- Tá.

Durante meu desjejum conversamos algumas coisas, fazendo várias rotas e planos futuros. Enfim começaríamos nossas aventuras, depois de um primeiro dia turbulento e abarrotado de imprevistos. Ela parecia bem animada, pra quem tinha passado por uma situação tão delicada recentemente. Eu tinha perdido aquela passividade que me acompanhava a vida toda, e pela primeira vez em muito tempo me sentia vivo, pulsante, confiante de que tudo daria certo. Acabei de comer, escovei meus dentes e saímos.

sábado, 3 de agosto de 2013

DIA 13

Nem a escuridão total e nem o mórbido silêncio que inundavam o quarto me faziam dormir. Nenhuma outra condição natural seria capaz de me adormecer, talvez um sedativo muito forte. Meu estado de espírito não me deixaria apagar, queria curtir aquele momento o máximo possível, mesmo sabendo que ele ainda se repetiria algumas vezes. Poderiam ser quatro, cinco, mil noites ao lado dela, não importava, seria pouco.
            Totalmente paralisado na cama, eu apenas a observava. Encontrei uma posição que me permitisse obter a visão de cada pedacinho do corpo de Clarice. Limitei meus movimentos para que não a incomodasse, não queria por nada no mundo perturbar o descanso daquela linda criatura. Apenas meus olhos giravam calmamente em sua órbita, capturando e processando cada visão obtida.
            Ela dormia com um braço debaixo do travesseiro e a perna direita levantada, formando um ângulo agudo entre a panturrilha e a coxa. O short do pijama que já era curto, agora deixava as pernas ainda mais à mostra, por conta da posição. Os músculos se exibiam de maneira tão exuberante que me dava a impressão que eles sabiam exatamente o efeitos que tinham sobre seus admiradores. Era como o canto das sereias: de tão belo enfeitiçava e enlouquecia mortalmente os homens de boa fé.
            Eu estava ali, completamente submerso e entregue ao feitiço. Não queria por nada no mundo ser despertado, mesmo sabendo que aquilo poderia se encaminhar para um perigoso futuro, assim como nas lendas. Queria tocá-la. Sentir suas coxas, provar da maciez e delicadeza que estavam ali diante dos meus olhos. Alguns centímetros separavam minha mão das pernas dela, mas era perigoso. Poderia despertar Clarice do seu sono. Ainda mais, podia assustá-la e fazer com que toda confiança que tinha em mim desaparecesse. Poderia ser o fim de uma história que ainda nem tinha começado e eu nem sabia se iria começar. Era perigoso demais. Desviei meu olhar para um ponto do seu corpo que não pudesse oferecer uma atração física muita forte e me contive.
A ideia de procurar outros pontos para admirar funcionou como um tiro saindo pela culatra. Tudo nela era lindo, digno de profunda admiração. Os olhos fechados com suavidade, os ombros que saltavam ao pijama de alças, os cabelos ligeiramente desordenados, repousando sob o travesseiro. A cena dela dormindo me trazia num jato descontrolado excitação e ternura. Além de estar completado seduzido, eu estava apaixonado. Sim, apaixonado. Naquele momento tive consciência disso, não fazia questão de me enganar mais. Uma menina que eu conhecia a pouco mais de 48 horas era completamente dona de mim.

 Meu fascínio por aquela cena só ia aumentando com o aprofundar da madrugada. Não tinha a mínima noção de quanto tempo já tinha passado admirando-a e pensando naquela situação. Sabia que não poderia ser pouco porque a minha posição já se tornara incômoda e um vestígio de sono pairava sobre mim. Decidi então buscar o sono e interromper temporariamente meus devaneios. Dei mais uma última olhada para ela. Uma mecha de cabelo havia escorregado e encobria seu rosto. Com a máxima leveza possível, ajeitei-a para trás da orelha, e lancei um beijo em sua direção. Procurei meu travesseiro e fechei meus olhos.