segunda-feira, 22 de julho de 2013

DIA 10 - parte II

Me deparei com a Clarice, meio desesperada, tentando se comunicar com a moça da recepção. Ela perguntava por mim, qual era meu quarto, se eu ainda estava lá. Sim eu estava, e agora vendo tudo. Ela ainda não tinha se dado conta da minha presença, as palavras que ela balbuciava misturavam com o choro e aqueles pequenos soluços que ela soltava quando chorava. A mulher da recepção não entendia nada, e foi ficando cada vez mais assustada com o aparente desespero da menina.
- O que foi? – Decidi intervir naquela confusão.
- Ah! Te encontrei, graças a Deus! – Ela veio chorando, ainda mais desesperada, e me abraçou. Fiquei ali, surpreso, sem reação. Quando percebi o que se passava, levantei meus braços e de leve, envolvi o seu corpo. Aquele contato me deixou tenso. Eu não sabia  o que fazer, esperei ela tomar atitude.
- Vamos pro seu quarto? Preciso muito falar com você.
- Tá, calma. – Descolei meu corpo do dela, peguei na sua mão e levei até o 101.
- O que aconteceu? Porque cê está assim? – Perguntei assim que entramos.
- Não queria falar sobre isso, mas te devo uma explicação, né?
- Se não quiser falar, ué. Mas é estranho você aparecer assim, do nada, chorando.
- É que meu namorado ia buscar só mais tarde na rodoviária, aí eu cansei de esperar e peguei um taxi. Quando eu cheguei no apartamento dele, tinha outra menina lá. Ele ainda tentou esconder a vadia, mas eu não sou idiota...
- Nossa! E...
- Ah, cara, porque ele fez isso comigo? Era tão mais simples falar que não queria mais! Por que isso, porque? Ah não... - Os soluços voltaram e ela já não tinha mais condição nenhum de falar. Também não insisti, percebi que ela sofria muito falando daquilo. Eu nunca tinha passado por aquilo, nem por coisa parecida. Não sabia o que dizer, e não queria piorar nada. Apenas olhei pra ela e dei outro abraço. Ela se entregou completamente, e seu corpo pendeu todo sob meus braços.
            Ela ficou ali durante alguns minutos. Suas lágrimas caíam no colo e molhavam lentamente meu jeans, enquanto o vento que entrava pela janela se tornava a trilha sonora daquela cena. Deixei ela ficar o tempo que precisasse. Eu também não tinha pressa que aquele momento acabasse, na verdade nem queria. Ela se levantou, já cansada de chorar. Secou as lágrimas no rosto, ensaiou um sorriso e falou:
- Chega! Você deve estar me achando uma louca de novo. Mal te conheço e já dormi e chorei no seu ombro. Não bato bem mesmo!
- Relaxa, tá tranquilo. Eu não sei lidar com essas situações, sou péssimo. Mas até que gostei dessas experiências com você. Não, quer dizer...não que tenho sido legal você sofrer, ah...
- Entendi! Não precisa explicar não. – Falou ela, achando graça do meu embaraço. – Me desculpa, já vou indo. Se eu correr ainda pego o ônibus de hoje.
- Espera, você vai voltar?
- Ué, lógico!
- Não, fica aqui, ué! Você mesmo disse que a cidade é linda, que adora vir pra cá.
- Ah, não. Mas é que...nem tenho onde ficar. Ia ficar na casa dele, e nem trouxe dinheiro pra hotel.
- Não precisa, eu tenho aqui, de boa. Fica comigo? – No calor da conversa não tinha percebido o que tinha proposto pra ela. Quando me dei conta da situação senti minha cara corar, morri de vergonha.
- Ué, você quer que eu fique?
-Eu? Cla...claro! – Respondi sem graça.
- Mas e o hotel? Eu não tenho dinh...
- Não precisa! Eu tenho, de verdade!
- Tá, então. – Quando ela respondeu isso, toda aquela angústia que antes me consumia desapareceu. Não consegui esconder minha excitação, sorri. Olhei para ela, peguei em sua mão.
- Vamos lá pegar um quarto pra você, então?

- Vamos.

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