segunda-feira, 15 de julho de 2013

DIA 07

Aquele doce toque, que colocava em contato o meu pescoço hora com os cabelos hora com as bochechas dela, era meu primeiro contato com o universo feminino. Há algum tempo havia beijado uma garota, mas não considero aquilo uma experiência afetiva porque o ato foi uma simples punição de uma estúpida brincadeira de pré-adolescentes. Agora não, mesmo com ela dormindo nada tinha forçado nosso encontro, a não ser a gravidade, que aquele momento era a minha melhor amiga.
Minha mente raciocinava o mais rápido possível em busca de uma reação para a cena. Deixava ela acordar e perceber o que havia acontecido? Tentava acomodar ela de outra maneira, e claro, sem acordá-la? Fingia que dormia também para que ela pensasse que eu não havia prestado atenção e evitasse um constrangimento? Mergulhado em todos atos de coragem que havia tido naquela viagem até agora, decidi apostar na sorte e duvidar do fracasso. Esperaria ela acordar.
Não demorou muito. Ela se mexeu devagar, aumentando o atrito dos cabelos em mim e arrepiando todo meu corpo. Num golpe só se levantou, assustada, se distanciando de mim bem mais do que eu queria. Com os olhos esbugalhados disse:
-Nossa! Me desculpa! Que vergonha! Não percebi que estava me apoiando em você, me desculpa mesmo! Que vergonha! Porque não me acordou?!- Indagou.
- Não tinha necessidade. Você dormia confortável, não me atrapalhava em nada. Tá tudo bem, não precisa se desculpar. Relaxa.
- Ah não, meu Deus! Nossa, cara, você deve estar me achando uma louca. O que deu em mim?
- Não foi culpa sua, relaxa! O ônibus mexeu, você caiu, e dormia muito bem, não quis te acordar. Tá tudo bem mesmo.
- Deixa eu me apresentar então. Já até dormi no seu ombro, né? Clarice, prazer. - Estendeu a mão direita para mim.
- Que nome bonito! Prazer, eu sou...- Antes que pudesse apertar a mão dela um buraco na estrada fez o ônibus sacudir mais do que o normal e ela bateu o rosto contra a janela.
- Nossa, meu Deus! Se machucou? – Perguntei preocupado, depois do incidente.
- Não tá tudo...
- Cara, sua testa inchou! Tá roxa! - Alertei-a. Depressa ela enfiou a mão na mochila, pegou um espelho e se deparou com o calombo.
- A não, que droga! Justo agora! Será que demora muito para sair?
- Ué, não sei. Acho que sim. Mas nem ficou feio, só dá pra ver de perto. Por que justo agora?
- É que tô indo pra Búzios encontrar meu namorado. Ele se mudou pra lá e faz um tempo que não o vejo. Não queria encontrar ele assim. – Essa frase ecoou na minha cabeça, corroendo minhas entranhas como se um balde de ácido tivesse sido derramado dentro de mim. Estava tudo bom demais para ser verdade. Lógico que uma menina tão bonita assim não poderia estar no meu caminho.
- Ah! – exibi um sorriso sem graça. – Ele não vai se preocupar com isso.- Meti a mão na mochila, me endireitei na poltrona e reabri o livro.
- É, você tem razão! Além disso pode diminuir até chegarmos lá também.
- É – respondi já sem interesse nenhum naquele diálogo. Ela se virou e voltou a encarar a paisagem.


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