Alguns
escritos atrás eu disse que o fracasso sempre acompanha sua vítima, em todos os
passos. E uma das formas mais perceptíveis que ele assume é o pessimismo. A
falta de crença de que alguma coisa vá dar certo é, sem dúvida, o fracasso
arreganhando um sorriso de orelha a orelha e te encarando maliciosamente.
Era isso o
que eu vivia naquele ônibus. Encarava face a face o meu sombrio futuro. O fato
de já estar na estrada me tirava a possibilidade de arrepender e desistir te
tudo. Isso substituiu a ansiedade pelo medo, e ouriçava todos sentimentos
negativos que, como um bom fracassado que sempre fui, cultivava em mim. Não ia
dar certo a viagem. Aquilo era loucura! O que eu iria fazer sozinho, milhas e milhas
de casa? Nunca tinha me incomodado com nada na minha vida, porque tomar essa
atitude tão radical de uma maneira tão precipitada? Sei lá.
Afundado
naquela poltrona engordurada e com forte cheiro de mofo, minha expectativa ia
sumindo à medida que a viagem seguia. O silêncio mórbido dos passageiros me
fazia sentir em casa, o que justamente eu não queria. Isso, aliado ao fato da
velha gorda ainda estar apagada no meu lugar, sem menor sinal de que se daria
conta de estar no banco errado, aumentavam minha certeza que de nada daquilo
tudo adiantaria. Na tentativa de distrair um pouco minha mente desses
pensamentos negativos, enfiei a mão dentro da mochila e retirei um livro, que
por curiosidade, faz parte da estante que hoje habita meu quarto, a qual me
referi no primeiro relato.
Era de
suspense. Meio ficção meio policial, misturava as duas coisas. Não sei porque o
comprei, mas o que mais chamava a atenção era a capa: Um beco escuro com
manchas de sangue. Na certa traria uma história agitada, meticulosa, cheia
de aventuras, bem diferente da minha realidade. Já nas primeiras páginas da
leitura, desisti. O sacolejo do ônibus dificuldade o discernimento das letras,
e me causava náuseas. Ao fechar o livro, sem querer mirei na poltrona da velha,
que por sinal, era minha. Meu espanto foi grande: Ela não estava mais lá,
apenas o assento bastante fundo e amarrotado, vazio. Estava de volta ao meu
corpo a adrenalina, o que mais eu buscava naquela aventura. Olhei para a
menina e ela estava da mesma maneira, imóvel, como uma pintura emoldurada. Nada
agora me impedia, era hora de agir, ir em busca do meu grande objetivo, mudar
os rumos da minha vida.
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