quarta-feira, 10 de julho de 2013

DIA 06 - parte I

            Alguns escritos atrás eu disse que o fracasso sempre acompanha sua vítima, em todos os passos. E uma das formas mais perceptíveis que ele assume é o pessimismo. A falta de crença de que alguma coisa vá dar certo é, sem dúvida, o fracasso arreganhando um sorriso de orelha a orelha e te encarando maliciosamente.
            Era isso o que eu vivia naquele ônibus. Encarava face a face o meu sombrio futuro. O fato de já estar na estrada me tirava a possibilidade de  arrepender e desistir te tudo. Isso substituiu a ansiedade pelo medo, e ouriçava todos sentimentos negativos que, como um bom fracassado que sempre fui, cultivava em mim. Não ia dar certo a viagem. Aquilo era loucura! O que eu iria fazer sozinho, milhas e milhas de casa? Nunca tinha me incomodado com nada na minha vida, porque tomar essa atitude tão radical de uma maneira tão precipitada? Sei lá.
            Afundado naquela poltrona engordurada e com forte cheiro de mofo, minha expectativa ia sumindo à medida que a viagem seguia. O silêncio mórbido dos passageiros me fazia sentir em casa, o que justamente eu não queria. Isso, aliado ao fato da velha gorda ainda estar apagada no meu lugar, sem menor sinal de que se daria conta de estar no banco errado, aumentavam minha certeza que de nada daquilo tudo adiantaria. Na tentativa de distrair um pouco minha mente desses pensamentos negativos, enfiei a mão dentro da mochila e retirei um livro, que por curiosidade, faz parte da estante que hoje habita meu quarto, a qual me referi no primeiro relato.

            Era de suspense. Meio ficção meio policial, misturava as duas coisas. Não sei porque o comprei, mas o que mais chamava a atenção era a capa: Um beco escuro com manchas de sangue. Na certa traria uma história  agitada, meticulosa, cheia de aventuras, bem diferente da minha realidade. Já nas primeiras páginas da leitura, desisti. O sacolejo do ônibus dificuldade o discernimento das letras, e me causava náuseas. Ao fechar o livro, sem querer mirei na poltrona da velha, que por sinal, era minha. Meu espanto foi grande: Ela não estava mais lá, apenas o assento bastante fundo e amarrotado, vazio. Estava de volta ao meu corpo a adrenalina, o que mais eu buscava naquela aventura. Olhei para a menina e ela estava da mesma maneira, imóvel, como uma pintura emoldurada. Nada agora me impedia, era hora de agir, ir em busca do meu grande objetivo, mudar os rumos da minha vida.

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