quinta-feira, 18 de julho de 2013

DIA 09

Era um novo mundo que se abria ali, na minha frente. Tinha chegado a hora de viver. A excitação que eu sentia naquele momento me fez esquecer quase por completo Clarice e tudo que se passou dentro do ônibus. Eu disse quase porque ela desceu atrás de mim e vinha mantendo um assunto qualquer que eu não me lembro qual. Olhava tudo e todos, como uma criança abrindo o pote de balas longe dos pais, podendo escolher a vermelha, a azul, verde, amarela, ou todas.
            A movimentação frenética daquele lugar me assustou um pouco. Muita gente, muita loja, pouco espaço. Me senti até um pouco sufocado, precisei sentar. Procurei a praça de alimentação e depois de algum tempo achei uma mesinha no fundo, desocupada. Ainda me restava um sanduíche na mochila, com fome, peguei-o para comer. Clarice ainda estava comigo, sentou na cadeira de frente.
- Tá tudo bem? Você tá calado, sei lá.
- Tá. Só tô cansado. Nunca tinha feito uma viagem tão longa. Quero ir pro hotel logo.
- Também tô. Preciso tomar um banho, deitar.
- É. Olha, acho que já vou. Você sabe onde posso pegar um táxi por aqui?
- Ah, mas já? Fica aí. Tem um lugar de videogames ali atrás, vamos jogar alguma coisa!
- Não, valeu. Quero descansar mesmo. E o táxi?
-Tá bom então – disse ela olhando para o chão, com uma certa frustração. – Então, os táxis ficam naquela entrada de lá – Apontou.
- Obrigado. Vou indo, tchau Clarice. Bom passeio! – Eu disse, estendendo a mão. Ela se levantou, deu um sorriso de canto de boca:
- Tchau! Prazer te conhecer. Espero que goste de Búzios, é legal.
- Vou gostar. Tchau. – Virei as costas e segui.
            Na minha mente esse último sorriso dela ficou gravado. Ocupando meu pensamento enquanto cruzava o saguão. Nunca mais a veria. Apesar de toda frustração era duro pensar nisso. A angústia que eu sentia no ônibus voltou, mais forte. Precisava pelo menos me despedir melhor dela, dar sinal de que sentiria falta, quem sabe até passar meu telefone. Não podíamos ser amigos? Lógico que sim! Dei meia volta e bem depressa, quase correndo, fui ao encontro dela.
            A terrível ideia de que ela pudesse não estar mais lá me fez literalmente correr, atropelando malas e arrancando xingamento das pessoas. Quando olhei para a mesa onde estávamos vi sua mochila repousada sobre a mesa. Estava lá, sentada, apoiando o rosto sobre a mão. Fui me aproximando, ela de costas, não percebeu minha presença. Vi que estava no telefone. Tive medo, mesmo assim decidi me aproximar mais.
- Ah não, amor! Você ainda vai demorar muito! Vem logo! Não aguento mais de saudade! – Foi o que ela disse ao telefone. Parei ali, não ia mais adiante com isso tudo. Não era o que eu queria, ser apenas um amigo. Não valia a pena correr o risco, não mesmo. Voltei ao meu primeiro caminho: os táxis.

Esperei algum tempo até encontrar um carro disponível. Quando chegou, entreguei o papel com o endereço do hotel para o taxista e me meti no banco de trás. Voltei a pensar no sorriso dela, na cena do telefone. Meu coração ficou apertado. Ignorei todos os momentos que tive ao lado dela, no ônibus, na rodoviária. Nem me importei se ela estava ali comigo ou não. Porque sempre na hora de largá-la de vez era aquilo tudo? Se não tivesse voltado lá a minha despedida não teria sido tão doída assim. Pelo menos tive mais alguns momentos para admirá-la.

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