Era um
novo mundo que se abria ali, na minha frente. Tinha chegado a hora de viver. A
excitação que eu sentia naquele momento me fez esquecer quase por completo
Clarice e tudo que se passou dentro do ônibus. Eu disse quase porque ela desceu
atrás de mim e vinha mantendo um assunto qualquer que eu não me lembro qual.
Olhava tudo e todos, como uma criança abrindo o pote de balas longe dos pais,
podendo escolher a vermelha, a azul, verde, amarela, ou todas.
A movimentação frenética daquele
lugar me assustou um pouco. Muita gente, muita loja, pouco espaço. Me senti até
um pouco sufocado, precisei sentar. Procurei a praça de alimentação e depois de
algum tempo achei uma mesinha no fundo, desocupada. Ainda me restava um
sanduíche na mochila, com fome, peguei-o para comer. Clarice ainda estava
comigo, sentou na cadeira de frente.
- Tá tudo
bem? Você tá calado, sei lá.
- Tá. Só
tô cansado. Nunca tinha feito uma viagem tão longa. Quero ir pro hotel logo.
- Também
tô. Preciso tomar um banho, deitar.
- É. Olha,
acho que já vou. Você sabe onde posso pegar um táxi por aqui?
- Ah, mas
já? Fica aí. Tem um lugar de videogames ali atrás, vamos jogar alguma coisa!
- Não,
valeu. Quero descansar mesmo. E o táxi?
-Tá bom
então – disse ela olhando para o chão, com uma certa frustração. – Então, os
táxis ficam naquela entrada de lá – Apontou.
-
Obrigado. Vou indo, tchau Clarice. Bom passeio! – Eu disse, estendendo a mão.
Ela se levantou, deu um sorriso de canto de boca:
- Tchau!
Prazer te conhecer. Espero que goste de Búzios, é legal.
- Vou
gostar. Tchau. – Virei as costas e segui.
Na minha mente esse último sorriso
dela ficou gravado. Ocupando meu pensamento enquanto cruzava o saguão. Nunca
mais a veria. Apesar de toda frustração era duro pensar nisso. A angústia que
eu sentia no ônibus voltou, mais forte. Precisava pelo menos me despedir melhor
dela, dar sinal de que sentiria falta, quem sabe até passar meu telefone. Não
podíamos ser amigos? Lógico que sim! Dei meia volta e bem depressa, quase
correndo, fui ao encontro dela.
A terrível ideia de que ela pudesse
não estar mais lá me fez literalmente correr, atropelando malas e arrancando
xingamento das pessoas. Quando olhei para a mesa onde estávamos vi sua mochila
repousada sobre a mesa. Estava lá, sentada, apoiando o rosto sobre a mão. Fui
me aproximando, ela de costas, não percebeu minha presença. Vi que estava no
telefone. Tive medo, mesmo assim decidi me aproximar mais.
- Ah não,
amor! Você ainda vai demorar muito! Vem logo! Não aguento mais de saudade! –
Foi o que ela disse ao telefone. Parei ali, não ia mais adiante com isso tudo.
Não era o que eu queria, ser apenas um amigo. Não valia a pena correr o risco,
não mesmo. Voltei ao meu primeiro caminho: os táxis.
Esperei
algum tempo até encontrar um carro disponível. Quando chegou, entreguei o papel
com o endereço do hotel para o taxista e me meti no banco de trás. Voltei a
pensar no sorriso dela, na cena do telefone. Meu coração ficou apertado.
Ignorei todos os momentos que tive ao lado dela, no ônibus, na rodoviária. Nem
me importei se ela estava ali comigo ou não. Porque sempre na hora de largá-la
de vez era aquilo tudo? Se não tivesse voltado lá a minha despedida não teria
sido tão doída assim. Pelo menos tive mais alguns momentos para admirá-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário