sábado, 20 de julho de 2013

DIA 10. Parte 1


            A caminho do hotel fiquei revivendo alguns momentos que passei com Clarice. A solidão que preenchia o espaço vazio dentro do carro ameaçava estragar meus planos. Quando planejei viajar, não contava com a presença de mais ninguém. Seria eu, apenas. Nem cogitei conhecer alguém, muito menos senti a necessidade de ter companhia. Agora não era mais assim. Aquela menina havia modificado tudo, e o vazio que antes era meu aliado, se tornava o grande vilão.
            Refém dos maus pensamentos, nem percebi o quanto demorava para chegar ao hotel. Não tinha noção de quanto tempo já havia se passado, só sabia que era muito. Já estava incomodado de novo, queria logo chegar. Tentando procurar algum sinal do tal hotel, comecei a reparar a cidade. Bem bonita mesmo, aconchegante. Com uma atmosfera bem turística, como se tivesse sido feito apenas para os visitantes. Isso me agradou, aliviou um pouco minha áurea ruim.
            Alguns minutos depois cheguei ao meu destino. Uma pousadinha bem simples, com acabamento rústico e alguns móveis já gastos. Agradeci ao motorista, paguei o que devia e entrei no hotel. A recepção era pequena, com um balcão de madeira clara e um computador bastante amarelado. O quadro que guardava as chaves dos quartos denunciavam os poucos aposentos que tinham o lugar. Achei melhor, nunca gostei de tumultos.
- Boa noite, garoto. Tem reserva? – Perguntou a recepcionista, cansada de esperar alguma manifestação da minha parte.
- Ah, sim. Boa noite! Fiz pela internet. – Entreguei o comprovante eletrônico que me garantia o quarto. Voltei minha atenção novamente para o lugar. Mirei umas poltronas velhas colocadas ao lado com uma mesinha de centro recheada de revistas entre elas. No canto uma TV pequena sintonizava muito mal um noticiário, sem nenhum telespectador naquela sala. Uma janelinha aberta deixava uma corrente de ar entrar no ambiente, amenizando o calor abafado do lugar.
- 101, nesse corredor à direita, tá vendo? – Falou a moça apontando a chave para mim e indicando o lugar com uma mexida na sobrancelha.
- Sim, obrigado. – Peguei o chaveiro, forcei um sorriso para parecer educado, o que não surtiu efeito, e fui para meu aposento.
            Era um lugarzinho pequeno, a cama coberta por um lençol azul claro, bem marcado pelo excesso de uso e um travesseiro fino. Uma toalha posicionada no canto da cama, com sabonete e um vidrinho de shampoo em cima. Na parede um suporte segurava uma tvzinha menor ainda do que a da recepção. Ao contrário do que possam imaginar, adorei o quarto. Aliás, a minha casa de hoje tem alguma inspiração subjetiva nesse quartinho de hotel.
            Cansado da viagem, joguei a mochila na beira da cama e deixei meu corpo cair, totalmente nas mãos da gravidade, chocando com certa violência contra o colchão. Só tive o trabalho de tirar os tênis e sem nenhuma resistência me entreguei ao sono.
            Tempo depois acordei com a chuva molhando meu rosto. Quando deitei não tinha percebido que a janela estava aberta. Na verdade, nem tinha percebido a própria janela. Me levantei para fechá-la quando escutei uma voz vindo da recepção. Atento ao que se passava, esqueci completamente da chuva que invadia o quarto. Não conseguia compreender o que era conversado, mas não era um diálogo comum. Uma das vozes estava bem alterada, trêmula e meio chorosa. As palavras eram ditas com uma rapidez que não me deixavam compreender uma frase sequer. Preocupado com a situação decidi ir até a recepção saber o que acontecia.
            Saí do quarto, nem fechei a porta. À medida que eu me aproximava a voz aumentava seu volume e sua inconstância. Comecei a ficar assustado, a apreensão e a curiosidade me obrigaram a acelerar os passos. Cheguei na sala, olhei para o balcão. O susto me paralisou completamente, deixando cada músculo do meu corpo sem reação. Permaneci ali alguns segundos, afogado naquela surpresa.



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