...A
caminho do banco minhas pernas tremiam, assim como todo resto do meu corpo.
Aquela ansiedade cruel parecia invadir cada centímetro e tomar conta de mim.
Tinha que subir logo naquele ônibus ou desistiria ali mesmo, no meio da rua. Os
pensamentos fervilhavam na minha cabeça e quase não me deixaram lembrar que
ainda tinha que passar no banco. Sorte que vi uma placa de banco 24 horas na
porta do supermercado. Decidi entrar e sacar ali mesmo, já que a agência ainda
estaria fechada e bem mais longe.
Isso
me fez ganhar alguns minutos, o que no fim, significou apenas um tempo maior de
molho nos bancos depredados da rodoviária, à espera da minha aventura. O dia
estava bonito, sol quente, céu bem azul, cheio de nuvens. Reparar o tempo não
fazia parte do meu caráter rotineiro, mas nessa altura eu já não estava mais
submetido às minhas sensações comuns. Além do mais, esperar o ônibus naquela
rodoviária sem graça não me deixava muitas outras opções.
Em
outra dessas minhas análises, reparei numa moça bem nova, loira, sentada a
poucos metros de mim. Também com uma mochila apenas. Parecia ansiosa como eu.
Me vi nela, e isso me deixou atraído por cada movimento de seu corpo, por mais
inocente que fosse. Ela não desgrudava os
olhos do ponto onde meu ônibus iria estacionar assim que chegasse. Pensei que
ela podia estar esperando o mesmo que o meu, e que por alguma ironia da vida, o
destino faria nossos caminhos se cruzarem.
Esses pensamentos só me
deixaram ainda mais apavorados. E se fosse verdade? Se ela estivesse esperando
meu ônibus? Se ela tivesse os mesmos motivos que eu para estar viajando? E se o
universo tivesse conspirado para nos conhecermos? Minha boca estava seca, meu
coração parecia ter se multiplicado, precisei ir ao banheiro.
De longe o cheiro fétido já me enjoava. Meu estômago agora se revirava e tive que apertar o
passo. Corri, cheguei ao banheiro e vomitei tudo o que tinha para vomitar: O
medo, a ansiedade, o café da manhã. Por alguns segundos ainda permaneci dobrado
sobre a privada, pensando em tudo o que ia acontecer. Ia desistir, não estava
preparado praquilo. Fui na pia, lavei o rosto. Meu reflexo deixava visível o
estado emotivo em que eu me encontrava. O medo estava nos meus olhos, ali, pra
quem quisesse ver. Não ia deixar ele me vencer mais uma vez, botei a mochila
nas costas e fui em direção ao ponto.
Quando cheguei na
plataforma de embarque o ônibus já estava partindo, dando ré para sair. Não
parecia que tinha demorado tanto no banheiro. Corri, gritando e acenando para o
motorista, que com muita irritação, parou. Subiu os degraus do ônibus, a porta
se abriu e antes que eu pudesse me desculpar, o motorista mandou ir
logo procurar a poltrona. Não olhei pra ele mais, e entrei.
No corredor, fiquei
parado, procurando a menina dos cabelos loiros. Para meu alento e desespero, encontrei-a olhando tristemente para fora da janela,
alheia à minha chegada. Fui procurar então a minha poltrona, 8-A. À medida que
ia andando me aproximava da menina, e de novo meu coração voltou à garganta.
Parei ao lado dela, onde uma senhora bem gorda dormia e a espremia contra a
janela. Era ali o meu lugar, 8-A. Olhei para o restante do ônibus e um único
lugar vago, lá no fundo, denunciava que a velha tinha ocupado o lugar que era
pra ser meu. Olhei para o chão, não quis acordá-la. Voltei meus olhos para a
menina e disse:
- Era minha poltrona. –
Esperei uma reposta. Nada. Olhei de novo para ela e vi que estava com fones de
ouvido. Me virei e fui sentar no fundo do ônibus.
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