quarta-feira, 24 de julho de 2013

DIA 11 - parte II

A cama de casal foi a primeira coisa que olhei no quarto. Dois lugares, dois. Duas pessoas dormindo num mesmo lugar. Um lugar, duas pessoas ou uma só. Nunca me imaginei nessa situação. Dividir a cama com alguém, mesmo que fosse apenas por dividir mesmo. Não sabia o que pensar.
            Muito mais do que eu, Clarice estava exausta. Se jogou na cama, bem parecido com o que eu tinha feito pouco tempo depois.
- Vou dormir um pouco, tá? Tô muito cansada. Mas não precisa ficar aqui. Vai andar por aí, tem lugares legais por aqui perto. Logo eu levanto também.
- Não, de boa. Vou esperar aqui, continuar lendo. Te espero.
- Você que sabe. – Disse ela tirando os tênis, e ainda de meia, se deitando do lado direito da cama.
            Ainda não tinha coragem de deitar ao lado dela, até cheguei a sentar na beira da cama, mas preferi esperar. Fui para a poltrona do quarto e fiquei olhando para ela, velando por seu sono. Os olhos ainda estavam inchados e vermelhos de tanto chorar, se tornando o ponto que mais chamava a atenção no seu rosto. Os cabelos estavam mal penteados, transparecendo todo o estado de desespero que ela tinha vivido naqueles últimos momentos.
            Demorou pouco para ela apagar de vez. Continuei mantendo nela todos meus olhares. Em uma das poucas fugas, percebi que da bolsa dela caía uma caixinha. Me pareceu cigarros, mas não acreditava que uma menina tão bonita e tão doce pudesse fumar. No meu mundo, fumar era coisa de desvirtuados, de perdidos. Fui até a bolsa, peguei. Era mesmo uma carteira de cigarros. Olhei com certo nojo para a caixa, mas com piedade para ela. As duas coisas não combinavam, não mesmo.
            Voltei para a poltrona, com os cigarros na mão. Pensei em falar com ela, mas não tinha intimidade o suficiente para isso, mesmo tendo que dormir ao seu lado em algumas horas. Se ela fumava, não poderia ser tão ruim assim. Abri a caixa, peguei um e decidi experimentar. Procurei na bolsa dela um isqueiro, lógico que teria. Achei, acendi a ponta com as mãos meio trêmulas e coloquei na boca. Aquela fumaça toda me sufocou logo na primeira tragada. Meu olhos arderam e o gosto da nicotina me deu ânsia de vômito. Tomado pelas tosses, fui para o banheiro apagar aquilo.
            Lavei meu rosto, enxaguei a boca e devolvi o isqueiro e os cigarros na bolsa dela. Não era pra mim. Voltei para a poltrona e de novo, a coloquei em meu campo de visão. Sem perceber, dormi. Acordei já era noite. As luzes acessas, a cama vazia. Assustei com a possibilidade de Clarice ter se arrependido de tudo e ir embora. Escutei barulho de água no banheiro, fui procurar. Bati a mão na maçaneta e a porta não se abriu. Estava trancada.
- Acordou? – gritou ela, debaixo do chuveiro
- Aham, acabei dormindo também. E aí, melhorou?
- Descansei. Deu pra relaxar. Nossa, a água está ótima! Você devia entrar depois!
- É, preciso mesmo.
- Vamos sair pra comer? Já tô com fome de novo. – Me convidou Clarice. Agora sim começava minha viagem.
- Beleza, tô te esperando aqui.
            Ela saiu do banho. De toalha abriu a porta sorrindo e passou por mim. O cheiro da sua pele, ainda com a fragrância do sabonete invadiu minhas narinas e arrepiou meu corpo. Eu estava cada vez mais enfeitiçado por ela. No banho essa cena voltou aos meus pensamentos muitas vezes, aguçando ainda mais minhas sensações. Uma vontade extra-humana me invadiu, acabei me tocando. Depois fiquei envergonhado, pensei no que tinha feito, era estranho, não faria de novo.
            Saí do banheiro, ela já estava pronta, me esperando. Um blusinha de alças, bem casual combinando com um jeans meio gasto. Nos pés um all star de cadarços brancos que estavam encardidos. Me vesti rapidamente e saímos para comer.




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