sábado, 6 de julho de 2013

DIA 05 - parte I

Neste ponto me vejo obrigado a fazer uma pequena interrupção na história e fazer algumas explicações. Com o intuito de não tornar a narrativa longa demais e roubar o tempo de vocês, alguns contos serão divididos em duas partes. Prometo que a única intenção é essa, sem qualquer tentativa de fazer suspenses e mistérios, até porque seria pretensão demais tentar achar algum suspense em histórias como essas que narro aqui. Tendo explicado isso, vamos de volta à narração.
Uma viagem. Era essa a nova tentativa de fuga. Não importava para onde, quando ou com quem. Só queria sair da cidade, da rotina, buscar novos ares e almejar alguma aventura em minha vida. Planejar essa viagem me tirou algumas noites de sono e abasteceu os dias com ansiedade e adrenalina, sensações até então quase inexistes para mim.  Pela primeira vez eu me sentia animado com alguma coisa, e parecia reagir do marasmo que me engolia de maneira cada vez mais irreversível.
Confesso que foram muitos bons esses dias. A possibilidade de embarcar numa novidade afastou completamente o característico vazio que me rondava e ia atendendo pouco a pouco às minhas expectativas.
Demorei algum tempo para ter tudo em mente, mais do que o normal, já que nunca havia planejado uma viagem, mas em algumas semanas tudo estava pronto. Férias na escola, roupas na mochila, destino definido. Apenas uma rápida passagem no banco para sacar o dinheiro, que não era muito, me separava da maior aventura da minha vida até então. Apesar de ter pensando em tudo meticulosamente, a minha total inabilidade em lidar com a ansiedade me fez ignorar e atropelar alguns detalhes importantes, o que mais pra frente me será motivo de alguns transtornos, como verão.
Na noite anterior não consegui pregar os olhos. Minha energia estava completamente canalizada na viagem e nas possibilidades que me aguardavam. Os dedos dos pés estavam gelados, inquietos. O coração batia num ritmo frenético, como se um ataque cardíaco estivesse invadindo meu peito. Passei a noite toda conhecendo meninas, comendo pratos exóticos e cheirando lençóis das camas de hotel. Nunca tive vontade de viver o futuro, conhecer meus próximos passos. Vivi esse tempo todo pensando totalmente ao contrário, querendo me distanciar e retardar ao máximo que me aguardava mais pra frente.

Não aquela noite. Se eu pudesse teria pulado ela da minha vida e ido direto para a viagem. Havia colocado o relógio para despertar às 8 oitos, mas às 7 eu já estava na cozinha, fazendo sanduíches para comer no caminho. Enfiei tudo na mochila, olhei para a porta da casa. Senti minhas pernas bambearem. Não olhei para trás, rodei a maçaneta, bati a porta às costas e saí pela primeira vez em busca do meu futuro...

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