Neste
ponto me vejo obrigado a fazer uma pequena interrupção na história e fazer
algumas explicações. Com o intuito de não tornar a narrativa longa demais e
roubar o tempo de vocês, alguns contos serão divididos em duas partes. Prometo
que a única intenção é essa, sem qualquer tentativa de fazer suspenses e
mistérios, até porque seria pretensão demais tentar achar algum suspense em
histórias como essas que narro aqui. Tendo explicado isso, vamos de volta à
narração.
Uma viagem.
Era essa a nova tentativa de fuga. Não importava para onde, quando ou com quem.
Só queria sair da cidade, da rotina, buscar novos ares e almejar alguma aventura
em minha vida. Planejar essa viagem me tirou algumas noites de sono e abasteceu
os dias com ansiedade e adrenalina, sensações até então quase inexistes para
mim. Pela primeira vez eu me sentia
animado com alguma coisa, e parecia reagir do marasmo que me engolia de maneira
cada vez mais irreversível.
Confesso
que foram muitos bons esses dias. A possibilidade de embarcar numa novidade afastou
completamente o característico vazio que me rondava e ia atendendo pouco a
pouco às minhas expectativas.
Demorei
algum tempo para ter tudo em mente, mais do que o normal, já que nunca havia
planejado uma viagem, mas em algumas semanas tudo estava pronto. Férias na
escola, roupas na mochila, destino definido. Apenas uma rápida passagem no
banco para sacar o dinheiro, que não era muito, me separava da maior aventura
da minha vida até então. Apesar de ter pensando em tudo meticulosamente, a
minha total inabilidade em lidar com a ansiedade me fez ignorar e atropelar
alguns detalhes importantes, o que mais pra frente me será motivo de alguns transtornos,
como verão.
Na noite
anterior não consegui pregar os olhos. Minha energia estava completamente
canalizada na viagem e nas possibilidades que me aguardavam. Os dedos dos pés
estavam gelados, inquietos. O coração batia num ritmo frenético, como se um
ataque cardíaco estivesse invadindo meu peito. Passei a noite toda conhecendo
meninas, comendo pratos exóticos e cheirando lençóis das camas de hotel. Nunca
tive vontade de viver o futuro, conhecer meus próximos passos. Vivi esse tempo
todo pensando totalmente ao contrário, querendo me distanciar e retardar ao
máximo que me aguardava mais pra frente.
Não aquela
noite. Se eu pudesse teria pulado ela da minha vida e ido direto para a viagem.
Havia colocado o relógio para despertar às 8 oitos, mas às 7 eu já estava na
cozinha, fazendo sanduíches para comer no caminho. Enfiei tudo na mochila,
olhei para a porta da casa. Senti minhas pernas bambearem. Não olhei para trás,
rodei a maçaneta, bati a porta às costas e saí pela primeira vez em busca do
meu futuro...
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