sábado, 3 de agosto de 2013

DIA 13

Nem a escuridão total e nem o mórbido silêncio que inundavam o quarto me faziam dormir. Nenhuma outra condição natural seria capaz de me adormecer, talvez um sedativo muito forte. Meu estado de espírito não me deixaria apagar, queria curtir aquele momento o máximo possível, mesmo sabendo que ele ainda se repetiria algumas vezes. Poderiam ser quatro, cinco, mil noites ao lado dela, não importava, seria pouco.
            Totalmente paralisado na cama, eu apenas a observava. Encontrei uma posição que me permitisse obter a visão de cada pedacinho do corpo de Clarice. Limitei meus movimentos para que não a incomodasse, não queria por nada no mundo perturbar o descanso daquela linda criatura. Apenas meus olhos giravam calmamente em sua órbita, capturando e processando cada visão obtida.
            Ela dormia com um braço debaixo do travesseiro e a perna direita levantada, formando um ângulo agudo entre a panturrilha e a coxa. O short do pijama que já era curto, agora deixava as pernas ainda mais à mostra, por conta da posição. Os músculos se exibiam de maneira tão exuberante que me dava a impressão que eles sabiam exatamente o efeitos que tinham sobre seus admiradores. Era como o canto das sereias: de tão belo enfeitiçava e enlouquecia mortalmente os homens de boa fé.
            Eu estava ali, completamente submerso e entregue ao feitiço. Não queria por nada no mundo ser despertado, mesmo sabendo que aquilo poderia se encaminhar para um perigoso futuro, assim como nas lendas. Queria tocá-la. Sentir suas coxas, provar da maciez e delicadeza que estavam ali diante dos meus olhos. Alguns centímetros separavam minha mão das pernas dela, mas era perigoso. Poderia despertar Clarice do seu sono. Ainda mais, podia assustá-la e fazer com que toda confiança que tinha em mim desaparecesse. Poderia ser o fim de uma história que ainda nem tinha começado e eu nem sabia se iria começar. Era perigoso demais. Desviei meu olhar para um ponto do seu corpo que não pudesse oferecer uma atração física muita forte e me contive.
A ideia de procurar outros pontos para admirar funcionou como um tiro saindo pela culatra. Tudo nela era lindo, digno de profunda admiração. Os olhos fechados com suavidade, os ombros que saltavam ao pijama de alças, os cabelos ligeiramente desordenados, repousando sob o travesseiro. A cena dela dormindo me trazia num jato descontrolado excitação e ternura. Além de estar completado seduzido, eu estava apaixonado. Sim, apaixonado. Naquele momento tive consciência disso, não fazia questão de me enganar mais. Uma menina que eu conhecia a pouco mais de 48 horas era completamente dona de mim.

 Meu fascínio por aquela cena só ia aumentando com o aprofundar da madrugada. Não tinha a mínima noção de quanto tempo já tinha passado admirando-a e pensando naquela situação. Sabia que não poderia ser pouco porque a minha posição já se tornara incômoda e um vestígio de sono pairava sobre mim. Decidi então buscar o sono e interromper temporariamente meus devaneios. Dei mais uma última olhada para ela. Uma mecha de cabelo havia escorregado e encobria seu rosto. Com a máxima leveza possível, ajeitei-a para trás da orelha, e lancei um beijo em sua direção. Procurei meu travesseiro e fechei meus olhos.

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