Faltam 11 dias. Na manhã seguinte tudo ocorreu normalmente. Saímos,
conhecemos alguns lugares, batemos perna por aí. Percebi que nossa sintonia
estava mais afinada do que nunca, deixando cada segundo da viajem ainda mais
maravilhoso. Os receios e as vergonhas iam desaparecendo, e nesse ponto,
acredito que estavam reduzidos ao mínimo.
Durante a
tarde voltamos à praia, o dia estava bonito e um banho de mar seria perfeito.
Por algum tempo permaneci alheio à Clarice e tudo que se passava entre nós,
para curtir o visual e me deixar levar junto com o movimento das ondas. Sentei
na beirada do mar, onde, se a onda viesse com força, a água alcançaria apenas
os meus pés. O céu estava azul, bem azul, se misturando com o azul marinho e
tornando quase imperceptível a linha horizontal que separavam o mar do céu. As
nuvens e alguns pássaros se misturavam no infinito, parecendo dançar naquele
esplendoroso palco.
Fechei os
olhos lentamente, puxei o ar até encher o peito, segurei alguns segundos e
soltei. Abri os olhos e a cena ainda se passava exatamente com eu a tinha
deixado. Minha vida inteira eu tinha me
privado dessa e outras belezas que o mundo proporciona. Estava tudo errado, e
enfim eu tinha enxergado isso. Mais que enxergar, estava disposto a mudar e
reverter essa situação, imediatamente. Olhei para trás, Clarice estava deitada
de costas, tomando sol. Me levantei, desci até encontrar o mar, molhei as mãos,
passei no rosto e dei uma última olhada par ao horizonte.
Fui até onde
Clarice estava, e antes de chamá-la, respirei fundo:
- Clarice – disse com tom de voz firme.
- Oi, já quer ir embora? Tô levantan...
- Não, não é isso. É que fui te falar ontem, mas não
consegui. Tô gostando de você. – Ela franziu a testa, apertou os olhos que
estava firmes em minha direção. Fiquei preocupado, ela se pareceu mais surpresa
do que eu esperava, mesmo assim não me arrependia.
- Ahn...gostando, tipo gostar? – Respondeu totalmente
desconcertada.
- É, tipo. Sei lá, você apareceu tão repentinamente e mudou
tudo na minha vida. Nunca senti isso, gosto mesmo. – Sua expressão de susto ia
aumentando na medida que minhas palavras chegavam aos seus ouvidos.
- Ah, ahn. Também me surpreendi com você, mas tipo. Não sei,
acabei de viver tudo aquilo, ainda tô meio confusa.
- Não tudo bem. Não estou te cobrando nada, só queria q você
soubesse. Não quero mais deixar de tentar, sempre deixei de lado. Agora não.
- Ah, de boa. Tá tudo bem. – Ela se levantou, me deu um beijo
no rosto.
Pegamos
nossas coisas e voltamos ao hotel. Em silêncio, nenhuma palavra saía de nenhum
de nós. Fiquei com medo do que poderia acontecer, podia ter estragado tudo e
destruído toda nossa relação e jogado no ralo toda intimidade que tínhamos
criado em tão pouco tempo. Chegamos ao quarto, ela foi pro banheiro:
- Vou tomar um banho, pra tirar o óleo, tá?
- Tá, enquanto isso vou comprar algo pra comer, quer alguma
coisa?
- Pode trazer o mesmo que comprar pra você.
- Beleza. – Ela entrou pro banheiro e fechou a porta. Eu saí,
e comigo o medo de ter colocado tudo a perder.
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