quinta-feira, 10 de outubro de 2013

DIA 21

Faltam 7 dias.  Era nossa penúltima noite no hotel, e isso me trazia uma certa apreensão, uma incerteza. Como seria tudo depois da viagem? Será que continuaríamos juntos? Eu nem sabia onde ela morava, só sabia que era na mesma cidade. O encanto ainda pairava sobre tudo ao nosso redor, porém, um horizonte cinzento e incerto começava a apontar na paisagem.
Decidi não conversar com ela sobre isso durante nossas últimas horas da viagem. Não sabia o que aconteceria, então era melhor não arriscar e pôr tudo a perder. Mas, cedo ou tarde, essa conversa teria que acontecer, planejei para que fosse no ônibus, durante o trajeto que nos levaria de volta ao nosso mundo real. Perdido nesses pensamentos eu vi o sol nascer, se espremendo no feixe que se formou entre as cortinas mal fechadas e tomando o quarto. A luz alaranjada banhou nossa cama e acordou Clarice, que dormia ao meu lado. Ela abriu os olhos lentamente, esfregou-os e voltou-se para mim. Deu um sorriso que me fez esquecer tudo que pensava até ali. Beijei-a.
- Bom dia, lindo! Já tava acordado? Quê que aconteceu? Sempre acordo primeiro que você – Perguntou ela.
- Ué, não sei. Acordei sozinho. Estranho mesmo.  
- Hum...faz muito tempo?
- Não, nada. Uns 10 minutos só – menti.
- Ah. Então aproveita que você está invertendo os papéis e busca o café hoje então, enquanto eu tomo banho. Pode ser?
- Ué, claro! Deixa eu me vestir então – Disse sorrindo enquanto tirava meu braço que estava embaixo dela.
Me levantei, fui até as mochilas, que por sinal nunca tinham sido arrumadas desde que chegamos, peguei alguma coisa e fui para a sala do café. Cheguei lá e peguei o que ela gostava: Suco de uva, pão com requeijão e um pedaço de bolo de cenoura. Tentei organizar tudo dentro da bandeja para facilitar a minha viagem até o quarto, mas minha falta de destreza era tamanha que por várias vezes quase derrubei todo nosso café da manhã.
Quando cheguei no quarto, Clarice estava no telefone. Percebi uma certa inquietação na maneira de falar dela, um estranho nervosismo.
- Vou desligar, depois a gente se fala. Tá tudo bem. Tchau – desligou correndo.
- Quem era? Você ficou nervosa.
- Ah, minha mãe me enchendo porque eu já deveria ter voltado e ainda tô aqui. Mas não esquenta não que já tá tudo certo. Já expliquei.
- Ah, ok. – Achei estranho. Ela nunca tinha mencionado a mãe ou ninguém da família, isso me fez pensar que para eles, o fato dela estar viajando não importava tanto assim. Esse tempo todo não a vi recebendo nenhuma ligação, mas concordei que já era hora.
Comemos o que eu tinha levado, e ela fez questão de ressaltar que havia lembrado tudo que ela gostava. Ganhei um monte de beijinhos por causa disso. Ela estava pronta para sair, então fui para o banho, já que hoje, especialmente, tínhamos invertido os papéis. Ela ficou no quarto, começando a organizar o emaranhado de roupas sujas e limpas que havia se formado no canto do quarto.
Estava lavando o cabelo, quando escutei a porta se abrir. Ela invadiu o boxe, entrou debaixo d`água de roupa e tudo e começou a me beijar. Abracei-a pela cintura, e meu corpo terminou de molhá-la, ela passava as mãos pelo meu cabelo, como se quisesse ajudar a enxaguá-lo. Comecei a tirar sua roupa, que estava bem mais pesada que o normal, por conta da água, até que ficamos, nós dois, nus. Nos amamos no chuveiro e terminamos na cama.
Decidimos então ficar no hotel aquela tarde. Era a última antes de embarcarmos de volta e, por isso, queríamos mais tempo para nos curtir. O clima estava quente, bem praiano, mas ligamos o ar condicionado, deixamos a temperatura mais baixa, e ficamos debaixo dos lençóis. Fazendo nada. Conversando, trocando carícias. Entre uma saída para almoçar, intervalos para ir ao banheiro, pegar o controle remoto da tv ou alguma comida, ficamos ali o dia todo.
Já no fim da tarde o interfone do quarto tocou. Atendi, era a recepcionista do hotel dizendo que tinha alguém que queria nos ver. Fiquei assustado. Quem me procuraria tão longe, se nem em casa me procuravam? Pedi para ela liberar a entrada e contei para Clarice. Vi seus olhos se arregalarem como se vissem um fantasma. Ela empalideceu e ficou muda. Poucos segundos depois a campainha do quarto tocou. Clarice me secou, ainda estática, até que eu chegasse na porta. Abri. Dei de cara com o cara que tinha abraçado Clarice na rodoviária.

   

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